Após um longo período de retração do mercado de etanol, começaram a surgir sinais de recuperação das vendas no país. Na primeira quinzena de agosto, as usinas do Centro-Sul venderam às distribuidoras 14% mais etanol hidratado ante a quinzena anterior, ou 644,28 milhões de litros, e os analistas já começam a projetar uma reação da demanda nos postos para algo em torno de 1,3 bilhão de litros por mês.
Os dados quinzenais foram divulgados ontem pela União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica). Na comparação com o mesmo período do ano passado, contudo, o volume ainda é 10% menor.
O aumento das vendas sobre a segunda quinzena de julho veio da esteira da mudança de alíquotas de PIS/Cofins sobre combustíveis, que onerou mais a gasolina.
Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da Unica, pondera que é cedo para afirmar que esse aumento reflita a nova tributação ou estimule uma eventual troca da gasolina pelo etanol nas bombas, já que há outros fatores na mesa, como uma eventual falta de produto no estoque das distribuidoras ou um aumento da demanda por combustíveis em geral no país.
Leonardo Gadotti, presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom), concorda que é cedo para fazer essa avaliação, e ressalta que a demanda total por combustíveis é mais ligada ao poder aquisitivo – algo que ainda não reagiu com vigor.
Para um trader que preferiu não se identificar, a notícia do aumento do imposto sobre a gasolina pode ter levado os consumidores a reavaliar suas preferências, já que a sensibilidade aos preços cresce em tempos de desemprego elevado. Um aumento de R$ 0,40 por litro no preço da gasolina pode significar R$ 20 ou R$ 30 a mais por tanque, dependendo do carro, afirma.
De fato, nas últimas semanas a correlação entre os preços de etanol e gasolina não mudou muito. Em São Paulo, principal Estado consumidor, os preços do etanol têm se mantido em 68% do valor da gasolina desde a alteração tributária – 2 pontos a mais que na semana anterior à mudança.
Mesmo em termos absolutos a alteração foi pouco expressiva. Na última semana, o litro do etanol vendido nos postos paulistas estava R$ 1,151 mais barato do que a gasolina – 6 centavos a mais que na semana da alteração tributária.
E foi apenas na última semana, encerrada dia 26, que o etanol voltou a ficar mais vantajoso (abaixo de 70% do valor da gasolina) em Minas Gerais e Goiás, além de São Paulo e Mato Grosso.
Julio Borges, da consultoria JOB Economia, acredita que "isso é um bom sinal para retomada da demanda", atesta. Ele avalia que os preços do etanol ainda terão que cair mais para turbinar a demanda, para algo entre 66% e 67% da gasolina em São Paulo. "Mas, na semana passada, percebemos que as compras de etanol pelas distribuidoras já estavam mais animadas."
Para os analistas, a tendência é que o mercado de etanol recupere espaço nos próximos meses.
Padua acredita que a demanda por etanol nas bombas possa ir a 1,2 bilhão de litros a 1,3 bilhão de litros mensais até o fim da moagem de cana, acima dos 1,04 bilhão de litros vendidos em junho, de acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Já João Paulo Botelho, analista da consultoria FCStone, aposta em uma reação mais defasada por parte da demanda vê um consumo de etanol alcançando 1,35 bilhão de litros por mês entre outubro e dezembro. "Embora em dezembro a paridade seja pior, costuma ter um consumo maior por causa das viagens de fim de ano", afirma ele.
Por Camila Souza Ramos | De São Paulo