Na primeira semana de vigência dos preços mais baixos da gasolina que sai das refinarias da Petrobras, o etanol hidratado (usado diretamente no tanque dos veículos) perdeu competitividade nos postos de gasolina em relação ao "rival" fóssil na maior parte do país. A decisão da estatal foi anunciada em 14 de outubro e entrou em vigor no dia 15.
Conforme cálculos do Valor com base em dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustível (ANP), a diferença entre os preços dos dois produtos na semana entre os dias 16 e 22 ficou mais apertada que na semana precedente em 14 Estados.
O etanol só está mais competitivo em Mato Grosso, onde foi vendido a um valor médio equivalente a 67% do preço da gasolina. Para o etanol ser mais competitivo que o combustível fóssil, estima-se que seu preço deva ser até 70% do valor da gasolina, mas alguns analistas ponderem que a diferença absoluta também precisa ser levada em consideração.
Na última semana, os preços da gasolina recuaram em 14 Estados, mas ficaram estáveis em outros dois e chegaram a subir em outras 12 unidades da federação – inclusive em São Paulo, maior centro consumidor. O etanol hidratado, que já vem se valorizando nos postos há algumas semanas, voltou a subir em 19 Estados (São Paulo entre eles) e caiu em oito unidades federativas.
O etanol vem perdendo competitividade nesta safra porque as usinas estão dando preferência à produção de açúcar, que está remunerando mais. Já os preços da gasolina aos motoristas perderam força com a medida da Petrobras, mas a queda não foi generalizada. Os postos dizem que o recuo médio só não foi maior porque o etanol anidro, que é misturado ao combustível fóssil, está subindo.
Segundo Julio Maria Borges, diretor da consultoria Job Economia, a maior parte dos contratos que as usinas estabelecem para a venda de etanol anidro está atrelada aos preços do hidratado, o que acaba influenciando o preço final da gasolina. Mas ele ressaltou que as margens das distribuidoras também pesam na conta.
Em nota divulgada na sexta-feira, antes da divulgação do levantamento da ANP, a União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica) negou que o movimento de preços da gasolina nos postos estivesse atrelado ao comportamento dos preços do etanol anidro. A entidade ressaltou que a formação de preços do combustível também depende do valor na refinaria, das margens das distribuidoras e das revendas, além do preço atualizado para incidência de imposto.
Por Camila Souza Ramos | De São Paulo
Fonte : Valor