SÃO PAULO (Reuters) - Usinas de açúcar e etanol no Brasil elevaram substancialmente os volumes de hedge de açúcar para o próximo ciclo de produção (2016/17), na comparação com igual período do ano passado, garantindo valores favoráveis para o produto na expectativa de um aumento da produção na próxima temporada, de acordo com a consultoria independente JOB Economia.
O centro-sul brasileiro, principal região de processamento de cana-de-açúcar do país, está concluindo a safra 2015/16, que foi afetada por chuvas acima do normal. A umidade elevada, no entanto, deverá ser benéfica para a nova safra que poderá começar antes do previsto, em meados de março de 2016.
"As usinas fizeram hedge de volumes muito maiores do que haviam feito nessa época no ano passado", disse Julio Maria Borges, diretor da consultoria.
"Isso reflete os preços mais favoráveis, considerando a desvalorização do real, mas também porque as usinas esperam produzir mais açúcar na safra que vem", disse ele.
Informações divulgadas recentemente pelos maiores grupos processadores de cana do Brasil confirmam a informação.
A Raízen, joint venture entre a Cosan e a Shell, fez até 30 de setembro hedge para 958 mil toneladas de açúcar da safra 2016/17, ante volume de 565 mil toneladas que havia sido fixado há um ano, conforme relatório de resultados divulgado na segunda semana de novembro.
A Biosev, controlada pela Louis Dreyfus, usou futuros de Nova York para fixar 863 mil toneladas de açúcar da safra 2016/17 até o final de setembro, ante 348 mil toneladas em igual período do ano passado.
Nelson Gomes, presidente executivo da Cosan, afirmou em conferência com analistas de mercado após a divulgação dos resultados do 3º trimestre, que a Raízen acelerou as fixações após setembro e que o volume sob hedge já estava perto de 50 por cento do total exportável no início de novembro, algo como 1,6 milhão de toneladas.
Julio Maria Borges diz que o movimento das usinas brasileiras é um dos motivos que faz com que o mercado futuro do açúcar em Nova York esteja atualmente invertido, com os preços de contratos mais distantes abaixo dos valores dos contratos próximos, não refletindo os custos do carregamento.
Luiz Gustavo Junqueira Figueiredo, diretor comercial da usina Alta Mogiana, afirmou que os futuros do açúcar estão garantindo valores acima dos vistos na safra atual, o que justifica a busca pela fixação de preços.
"Os grupos maiores, mais estruturados, fixaram entre 40 e 70 por cento do açúcar da nova safra", afirmou.
"O lado positivo é que as usinas garantem as margens, mas isso deixa o mercado com poucas vendas daqui para frente, então flutuações de 100 pontos em duas sessões, por exemplo, poderão ser mais frequentes".