Recentemente tem tido muita informação e análise sobre os mercados de combustíveis renováveis e combustíveis fósseis, particularmente petróleo e derivados. O controle de emissões de gases do efeito estufa e a taxação da emissão de carbono alimentam esta questão. A impressão que fica é de uma aparente disputa entre estes dois tipos de combustíveis, com uma gradativa redução da demanda de petróleo e derivados. Além disso, comenta-se muito neste momento sobre a crise de suprimento de energia, em particular de energia renovável, dando a impressão de restrição de oferta permanente.
Vamos comentar um pouco sobre isto tudo.
ENERGIA RENOVÁVEL TEM INSTABILIDADE DE SUPRIMENTO SIM.
As usinas hidrelétricas e a energia renovável como eólica, solar e biomassa, por natureza, têm oferta com algum potencial de instabilidade. Não é possível dominar as forças naturais para garantir estabilidade permanente.
É possível contornar este problema criando um “ extintor de incêndio” ou seguro contra a falta de suprimento. Ou seja, existe um custo adicional para a energia renovável devido à necessidade de reserva de segurança. No Brasil temos as usinas térmicas de energia fóssil ou gás natural para garantir o déficit de oferta das hidrelétricas. É o que acontece neste momento no Brasil com a falta de chuvas.
Situação parecida com essa ocorre na Europa e Inglaterra com a energia elétrica. Seus preços estão surpreendentemente altos devido a uma restrição de oferta. Esta decorre da restrição de oferta de energia eólica na Inglaterra e gás natural, este com preços em forte alta . Esta situação estimula o uso de termelétricas movidas a energia fóssil, principalmente gás natural e carvão.
Qual foi a origem deste desequilíbrio?
Podemos mencionar:
- Baixos estoques de gás natural decorrente de um desequilíbrio provocado pelo Covid 19 no período de recuperação da atividade econômica : a demanda cresceu mais rápido que a oferta.
- A Rússia, que fornece gás natural para a Alemanha, que por sua vez redistribui para a Europa, reduziu o fornecimento em Agosto e Setembro. As razões para isto não são claras. O fornecedor russo Gazprom usa argumentos técnicos; o mercado admite razões não declaradas, visando aprovar o gasoduto russo Nord Stream II, que não atende as normas européias.
- O processo de descarbonização das economias eleva o custo da energia. No caso em questão as termelétricas a energia fóssil precisam adquirir direitos de poluir ou permissões de carbono que são negociadas no mercado. Isto aumenta o custo da energia fóssil.
- Menor intensidade de vento no Mar do Norte
MAIOR USO DE RENOVÁVEIS E CONTROLE DO RISCO DE SUPRIMENTO DE ENERGIA.
Conforme comenta Ellen R. Wald em seu artigo de 15/09/2021, publicado pelo Investing. com.
…“ Situações graves, como a vista agora, provavelmente se tornarão mais frequentes e intensas nos próximos meses e anos, à medida que os países europeus avançam em seus planos de fechar usinas nucleares e termelétricas para atingir suas metas de mudança climática.
A atual situação na Europa ressalta os perigos de se confiar demais na energia renovável e em instituições russas que seguem seus próprios interesses, e não os europeus. Mesmo com a resolução de todo esse imbróglio, esses mesmos problemas podem facilmente voltar a ocorrer em algum momento.”
Em nossa opinião, devemos admitir o uso crescente da energia renovável, competitiva economicamente, para beneficiar o meio ambiente. Neste caso, deve-se considerar também a necessidade de ter uma reserva de segurança para o fornecimento de energia . Esta reserva de segurança, bem como a necessária oferta complementar à energia renovável, viria, principalmente, do gás natural e petróleo. Este produzido com maior eficiência econômica e ambiental.
Considerando o discurso atual dos grandes players do petróleo, parece que o papel que esperam ter na matriz energética mundial não é diferente deste comentado acima.
Em resumo: energia total disponível para atender uma demanda global crescente, com custos menores e mais amiga do meio ambiente, é um cenário que se mostra possível e bem-vindo. O beneficiado em última instância é o consumidor, que vai pagar a conta desta transição, não necessariamente suave, da energia fóssil para a energia renovável.
Saúde a todos.
Julio Maria M. Borges
Sócio-Diretor da JOB Economia e Planejamento.
Conselheiro de Administração.
Email: julioborges@jobeconomia.com.br Site: www.jobeconomia.com.br