Etanol americano, açúcar brasileiro e a falta de reciprocidade de Trump.
Brasil 03.12.19 13:46
Nas negociações com os Estados Unidos, o Brasil aumentou a cota de etanol americano que pode ser importado sem imposto, mas não conseguiu elevar a cota para exportar açúcar aos Estados Unidos.
Apesar de parecerem similares, a cota de etanol e a de açúcar não podem ser colocadas na mesma balança. É preciso avaliar quem ganha e quem perde com cada um desses movimentos.
"Se o Brasil reduzir a cota de etanol que importamos dos Estados Unidos sem taxas, o consumidor brasileiro terá de pagar mais e o governo levará os dividendos", diz o economista Julio Maria Borges, sócio-diretor da Job Economia.
A produção de etanol brasileiro não é suficiente para abastecer os postos de combustível (foto). Por causa disso, o Brasil é um importador de etanol americano. A cota colocada pelo governo permite que uma parte do volume entre no país livremente. A partir desse limiar, os importadores brasileiros precisam pagar impostos ao governo brasileiro. Isso não afeta o valor pago aos exportadores americanos de etanol.
Quanto ao açúcar, a situação é distinta. Os americanos não produzem todo o açúcar que consomem. Ao comprar do mundo todo, eles decidiram dividir a importação em cotas para ajudar países e regiões mais pobres. No Brasil, por exemplo, apenas o Nordeste pode exportar açúcar aos Estados Unidos. O preço que os americanos pagam é cerca de 80% maior que o preço mundial. Outros países que possuem cotas são as nações da América Central e da Ásia.
"Para os Estados Unidos, mexer na cota de importação de açúcar é como mexer em um vespeiro. Para um país aumentar a cota, outro teria de perder, o que criaria um conflito geopolítico", diz Borges.