Para banco, cenário é desafiador para agronegócio nos próximos meses.
Avaliação do Rabobank aponta que câmbio, guerra comercial e evoluções interna e externa da economia devem influenciar o setor.
19.set.2019 às 2h00
Os produtores estão prestes a dar ritmo ao plantio da soja, o principal produto da atividade agrícola brasileira. Além disso, devem terminar a colheita de grãos, que se estende pelo segundo semestre do ano.
No setor de proteínas, o mercado externo, principalmente com a liberação chinesa de novos frigoríficos nacionais, deve abrir mais espaços para os produtos brasileiros.
Os próximos meses, contudo, serão um período desafiador para o agronegócio brasileiro. Ritmo das economias externa e interna e o comportamento do câmbio exigirão atenção do setor, principalmente porque os produtores terão de planejar as compras dos insumos da próxima safra.
Com boa oferta mundial, os fertilizantes têm queda de preços internacionais, mas a desvalorização do real retira dos agricultores possíveis ganhos com as compras desses insumos.
É a avaliação do Rabobank, banco especializado em agronegócio, sobre o setor nos próximos meses.
O banco prevê uma taxa de R$ 3,80 para o dólar no final do ano. Esse valor seria resultado de condições internas melhores, mas o cenário externa ainda deverá se manter desafiador.
O dólar poderá manter os custos dos insumos elevados, apesar das quedas externas de preços. Para o Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária), os custos com fertilizantes para a próxima safra de soja, de milho e de algodão devem ter alta de 11% a 16% no estado.
Os produtores vão iniciar o plantio de soja em um cenário de muitas dúvidas, segundo o banco. Pesa sobre o setor as incertezas geradas pela guerra comercial entre Estados Unidos e China, o que vem gerando pressão para baixo dos preços da oleaginosa.
Estoques elevados de soja nos Estados Unidos e na Argentina limitam prêmios de exportação no Brasil.
O açúcar poderá ter uma recuperação de preços, mas gradual. Na avaliação dos técnicos do banco, a próxima safra poderá ter um déficit mundial de 5 milhões de toneladas do produto, quando comparados oferta e consumo.
A safra de café é boa, mas a qualidade da bebida registrou problemas em parte da produção. Com isso, é possível haver um aumento dos prêmios por cafés de melhor qualidade. O Rabobank prevê um déficit global de 4,1 milhões de sacas no ciclo 2019/20.
Os produtores de milho encontram na paridade de exportação uma compensação pelos preços externos fracos. O câmbio deverá manter essa sustentação nos próximos meses.
O algodão, que tem se mostrado um produto rentável nas safras recentes, terá um cenário mais desafiador para o cotonicultor na próxima. As cotações futuras para o mercado da commoditiy, em 2019/20, são menores do que os das anteriores.
As proteínas, devido à demanda chinesa, provocada principalmente pela ocorrência da peste suína africana naquele país asiático, deverão ter um ânimo renovado. Além disso, a recuperação econômica interna, mesmo que em ritmo lento, pode sustentar os preços internos, principalmente os da carne bovina.
Os produtores de leite viram a demanda interna recuar e as margens de ganho diminuírem no setor. As condições de mercado vão depender do ritmo da retomada da economia.
No setor de suco, oferta elevada e demanda em queda afetam os preços. Já os valores globais da celulose continuam em queda, devido aos elevados estoques do produto na China.
O Brasil continua com bom mercado externo para as commodities, mas a economia mundial, o câmbio e os acertos comerciais entre as potências serão importantes para o agronegócio brasileiro nos próximos meses.
Cana-de-açúcar: A JOB Economia refez as estimativas de moagem de cana da safra 2019/20 na região centro-sul. A consultoria elevou para 579 milhões o volume de matéria-prima a ser moída. Esse reajuste para cima foi possível devido ao clima mais favorável às lavouras.
Mais etanol: A safra atual é cada vez mais alcooleira, segundo Julio Maria Borges, diretor da JOB. Ele elevou a produção de etanol para 30,7 bilhões de litros e cortou a de açúcar para 25,7 milhões de toneladas na região centro-sul.
Nordeste: A JOB mexeu também na estimativa de moagem de cana para o Norte e o Nordeste, que agora é de 50 milhões de toneladas. A produção de açúcar sobe para 2,6 milhões de toneladas, e a de etanol, para 2,2 bilhões de litros.
PIB O Produto Interno Bruto do agronegócio cresceu 0,53% no primeiro semestre deste ano, em relação a igual período de 2018, segundo a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
Insumos O resultado foi puxado pelo segmento de insumos (mais 7,26%), agroindústria (1,26%) e serviços (0,65%). O setor primário teve queda de 2,04%. Esse setor mostra a atividade dentro da porteira. Já a pecuária registrou alta de 4,65%.
Vaivém das Commodities - MAURO ZAFALON
A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.