Como um resumo da primeira parte deste artigo, podemos destacar a existência de uma competição crescente do lado da oferta de energia e açúcar . Do lado da demanda, podemos esperar uma demanda com crescimento gradativamente menor nos mercados de açúcar e etanol, devido ao aumento de eficiência no uso da energia e mudança de hábitos alimentares.
Cabe lembrar que estas condições de mercado não são exclusivas do setor de cana-de-açúcar. São condições de mercado inerentes ao mundo globalizado com mudanças tecnológicas rápidas e significativas. E tudo indica até agora que o novo Governo Bolsonaro deve perseguir algum grau de aderência a este novo mundo.
E o que poderia ser feito para que o setor de cana-de-açúcar sobreviva bem neste mundo de mudanças rápidas e expressivas?
Vou retomar minha tese. Alguns produtores e líderes de classe amigos meus que o digam.
O setor de cana-de-açúcar deve procurar prioritariamente aumentar a eficiência econômica e a competitividade, como já foi muito bem feito no período 1973-1999. Quando me refiro a eficiência econômica, refiro-me a redução de custos, variável sobre a qual o empresário tem mais controle do que sobre os preços ao consumidor , definidos pelo mercado. Eficiência técnica e eficiência ambiental são ingredientes relevantes para alcançar a eficiência econômica, mas não a substituem como objetivo final.
E como chegar lá? Como reduzir custos?
- Investindo em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) recursos financeiros necessários e de maneira eficaz, com o objetivo de buscar tecnologias que visem aumentar a produtividade dos fatores de produção.
- Estimulando e dando oportunidade para que as usinas tenham condições de otimizar seu negócio do ponto de vista técnico, econômico e administrativo.
- Provendo capital para investimentos em ativo fixo e giro, suficientes para ampliações e modernização do parque agro-industrial e para maximizar as receitas de comercialização da safra.
- Implantando um mecanismo de cobrança de desempenho daqueles beneficiados por esta política.
E como arrumar recursos financeiros para patrocinar este pacote de instrumentos de otimização?
Quando nos referimos a recursos financeiros para financiar a modernização e otimização do parque suco energético brasileiro estamos pensando na criação de um novo fundo de investimentos. Vamos nos referir a ele como Fundo de Biocombustíveis.
O RenovaBio é a Política Nacional de Biocombustíveis, instituída em 2017 com propósito de promover a produção e uso de biocombustíveis e reduzir a emissão de gases de efeito estufa. Tal política está sendo implantada com a finalidade maior de criar recursos financeiros para estímulo ao setor, dado que já existe demanda com potencial não atendido pela oferta de etanol combustível no Brasil.
Os recursos financeiros gerados pelo Renovabio, via preço dos Cbios e multas, poderiam ser dirigidos, em parte, para o Fundo de Biocombustíveis. Este fundo seria gerido por um Conselho formado por representantes do Governo Federal e representantes do setor privado com notória competência profissional.
O setor como um todo seria beneficiado. O País seria beneficiado. Cabe lembrar que na década de 70 foi criado um fundo pelo Governo (Funprosucar – IAA) com propósitos semelhantes aos que estamos sugerindo aqui. E o ganho foi muito relevante para o setor e o Brasil.
Desejo a todos um Feliz Natal e um 2019 muito bom.
Julio Maria M. Borges
Sócio-Diretor da JOB Economia e Planejamento.
Email: julioborges@jobeconomia.com.br
Site: www.jobeconomia.com.br