Um novo governo Jair Bolsonaro. Durante a preliminar do jogo principal que começa em 1º de Janeiro de 2019 tudo corre bem, o que é uma boa notícia para as elevadas expectativas dos brasileiros por um Brasil melhor.
Até agora, tudo indica que teremos uma política econômica voltada para o livre mercado e com estímulos à livre concorrência. Tudo indica que veremos a participação do Estado na economia ser reduzida. Vamos admitir que isto ocorra ao longo do tempo para o bem do Brasil.
E o setor de cana-de-açúcar? Como ficará neste novo desenho político, social e econômico que temos pela frente?
Acredito que o açúcar e o etanol de cana-de-açúcar, bem como a cogeração de eletricidade de bagaço de cana, no conjunto, será estimulado a competir de forma crescente, do lado da oferta, com produtos concorrentes. Neste caso, cabe lembrar etanol de milho, açúcar de beterraba, energia renovável eólica e solar, além das hidrelétricas.
Ainda do lado da oferta, o forte crescimento esperado para a produção e uso do gás natural em substituição ao carvão vai aumentar a competição com o combustível renovável na redução da emissão de gases do efeito estufa. No caso do petróleo, o desenvolvimento da tecnologia vai permitir aumento de produção e a busca de um produto cada vez mais limpo do ponto de vista ambiental.
Deve-se considerar, finalmente, que o biocombustível, de forma geral, compete com alimentos pelo uso de recursos naturais limitados como a terra.
Do lado da demanda de energia, teremos que encarar o aumento da eficiência no uso da energia elétrica e combustíveis líquidos. Neste caso aparecem motores de combustão mais eficientes, veículos elétricos e híbridos e o transporte compartilhado. Ou seja, teremos de considerar um crescimento da demanda de energia, associado ao crescimento econômico, a taxas mais modestas que no passado.
Quanto à demanda de açúcar, vemos uma mudança nos hábitos em busca de uma alimentação mais saudável, o que leva a reduzir excessos de calorias, álcool bebida, fumo etc. O açúcar natural de cana ou beterraba entra neste contexto como item a ter seu consumo controlado.
No curto e médio prazo, o efeito deste novo padrão de consumo alimentar na redução da demanda de açúcar será relativamente pequeno, pois será compensado pelo crescimento da demanda deste produto nos países de renda per capita abaixo da média mundial (África e Ásia principalmente). De forma geral, a população destes países precisa mais de alimentos do que de regime alimentar. Do médio para o longo prazo a história é outra.
Ao longo do tempo o aumento da demanda de açúcar natural tende a ser reduzido, mesmo considerando o crescimento populacional, pois espera-se que a renda per-capita aumente nos países em desenvolvimento e com isto a carência alimentar diminua. Além disso, como as maiores empresas de alimentos e bebidas industrializadas são multinacionais, sediadas em países de renda alta, poderemos observar uma tendência global de produtos padronizados, com menor intensidade de açúcar, colocados a disposição do consumidor. Isto tem um efeito demonstração grande em países de renda média e baixa, que imitam padrões de vida de países ricos.
Na próxima quinta-Feira colocaremos um post sobre a segunda parte do artigo. Nesta, iremos tratar de como enfrentar este desafio de concorrência crescente e global.
Julio Maria M. Borges Sócio-Diretor da JOB Economia e Planejamento.
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