Os preços do açúcar bruto no mercado internacional, que atingiram uma mínima de três anos neste ano, devem se recuperar na próxima temporada, em meio à demanda sustentada e pela perspectiva de redução do excedente no mundo, com um crescimento menor da moagem de cana no Brasil, maior produtor global.
"O fundo do poço já passou, os 16 centavos (por libra-peso) não voltam mais", disse o sócio-diretor da Job Economia, Julio Borges, em entrevista à Reuters.
Ele atribui esse movimento ao crescimento constante da demanda global por açúcar, em torno de 3 a 4 milhões de toneladas ao ano, enquanto a redução dos estoques globais tende a reduzir seu peso sobre as cotações do produto no mercado internacional.
O excedente global de açúcar é visto em 4,45 milhões de toneladas em 2013/14, menos da metade do ciclo anterior, em meio à expectativa de consumo maior, segundo a consultoria Kingsman.
Os preços do açúcar atingiram mínimas de três anos em meados do ano, pressionados pela perspectiva de uma safra recorde no Brasil, mas voltaram a se recuperar, com o primeiro vencimento operando atualmente perto de 18 centavos de dólar por libra-peso.
Outro fator que limita quedas do preço do açúcar é o etanol, lembrou o consultor.
"Esta safra trouxe uma lição para o mundo: o Brasil não precisa vender açúcar barato, porque tem o etanol. Isso dá suporte ao preço externo", disse.
O centro-sul do Brasil, região que responde por 90 por cento da safra de cana do país, deve moer entre 50 e 60 milhões de toneladas a mais nesta temporada ante o ciclo anterior, mas praticamente todo este volume está sendo destinado à produção de etanol.
"Isto não é pouco. É duas vezes a safra australiana, terceiro maior exportador, e metade da safra tailandesa, segundo maior", disse Borges.
O consumo de etanol no Brasil cresceu na esteira do consumo maior de gasolina e pelo aumento da mistura do anidro à gasolina, alterada em maio deste ano.
As usinas do centro-sul moeram até o momento 510 milhões de toneladas de uma safra prevista em recorde de quase 590 milhões de toneladas, segundo acompanhamento da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica).
A produção de açúcar de açúcar é vista pela Unica em 34,20 milhões de toneladas, ligeiramente menor que o previsto inicialmente e praticamente estável ante o ciclo anterior. A estimativa para o etanol é de um salto de 17 por cento na produção, para 25 bilhões de litros.
SAFRA NOVA
Para a nova safra, o consultor reiterou sua estimativa de incremento de 300 mil hectares na área com cana, para 8 milhões de hectares, com uma disponibilidade da matéria-prima perto de 640 milhões de toneladas na safra 2014/15, conforme afirmou em entrevista recente à Reuters.
A moagem no novo ciclo (2014/15) é estimada em novo recorde de 617 milhões de toneladas, ante as 590 milhões de toneladas da atual temporada. Mas o aumento anual, segundo a consultoria, é mais modesto em relação ao crescimento verificado de 2012/13 para 2013/14.
Segundo ele, o crescimento da safra reflete os investimentos para renovação dos canaviais e o aumento esperado na produtividade, que deve voltar à marca de 80 toneladas por hectare, ante 79 toneladas do ciclo anterior e 73 toneladas de 2012/13.
A consultoria ainda não apontou estimativas para o mix de moagem, ou seja, o percentual de cana destinada à produção de etanol ou açúcar, ressaltando que esta decisão dependerá em grande parte dos preços relativos na temporada.
Como exemplo ele citou o cenário visto na atual temporada em que o etanol anidro --que é misturado à gasolina-- remunerou mais no mercado interno se comparado ao valor equivalente em açúcar, entre abril e julho.
Por Fabíola Gomes