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22/03/2012 |
Com demanda mais contida, etanol pressiona menos o IPCA
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Pela primeira vez desde 2008 o etanol está ajudando a inflação já no começo do ano, antes da entrada da nova safra de cana-de-açúcar, que, em 2012, deve começar a ser colhida na segunda quinzena de abril. Em janeiro e fevereiro, o combustível acumulou queda de 4% nas bombas, menor taxa para o período desde 2000 no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). No primeiro bimestre do ano passado, o álcool hidratado subiu 6,3% no varejo. A deflação, dizem economistas, não tem fôlego para durar até o início da nova safra e os preços na usina e nos postos já estão subindo, mas, mesmo assim, a relação entre oferta e demanda deve ser menos apertada em 2012 e os combustíveis não oferecem risco expressivo à inflação, ao contrário do ano passado. Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), o preço médio diário do litro do etanol em março está em R$ 1,991, abaixo dos R$ 2,083 registrados na média de igual mês de 2011. Para analistas, o preço elevado do litro do combustível, que equivaleu ou ultrapassou 70% do da gasolina em boa parte de 2011, inibiu o consumo de etanol e reduziu a pressão sobre a oferta durante a entressafra. Além disso, a redução do percentual de álcool anidro na gasolina C, de 25% para 20%, aliada ao maior volume de importação, engrossou os estoques e também jogou para baixo os preços. O etanol encerrou 2011 com elevação de 15,7%, percentual que, segundo Thiago Curado, da Tendências, deve ser de 3% no final deste ano. A ajuda maior para o IPCA, observa Curado, virá da gasolina, que tem peso maior na composição do índice de inflação (4% frente ao 0,9% do álcool) e cujos preços na bomba são diretamente influenciados pelo "concorrente". A queda do etanol puxou a reboque o combustível fóssil, que recuou 0,35% em janeiro e 0,40% em fevereiro no indicador oficial de inflação. "Essa deflação deve ficar restrita ao primeiro trimestre e voltar com menos força em maio e junho, depois da entrada da safra [de cana], mas o saldo final é positivo", avalia o economista. Segundo cálculos da JOB Economia, o consumo de etanol entre abril de 2010 e janeiro de 2011 na região Centro-Sul ficou em torno de 1,5 bilhão de litros por mês, média que caiu para 1 bilhão entre abril de 2011 e janeiro deste ano. No primeiro mês de 2012, segundo o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras (Sindicom), as vendas caíram 39,6% sobre janeiro do ano passado. Em igual medida, com os preços mais atraentes no mercado externo, o volume de combustível importado aumentou. De maio do ano passado até janeiro de 2012, foram importados 1,298 bilhão de litros do biocombustível, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pelo Ministério da Agricultura. Em igual intervalo do ciclo passado, esse volume se resumiu a 50 milhões de litros. "Antes da última safra, a importação era irrisória. Ela ajudou a segurar os preços, junto com a demanda, já que a oferta interna não foi boa", diz Renata Marconato, da MB Agro. De acordo com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), que representa as usinas do Centro-Sul, a produção total de etanol hidratado na safra 2011/2012 alcançou 12,86 bilhões de litros, queda de 28% em relação a safra anterior. Para a safra 2012/2013, analistas trabalham com uma colheita entre 4% e 5% maior, outro fator que deve atenuar pressões nos preços. O sócio-diretor da JOB Economia, Júlio Maria Borges, prevê que o Centro-Sul produza entre 22 e 23 bilhões de litros do combustível na safra que está para entrar. "O clima ainda está ruim, mas de qualquer maneira acredito que a relação entre oferta e demanda vai ser um pouco mais folgada", comenta. Para ele, mais do que a importação maior, o que provocou deflação de álcool ao consumidor em plena entressafra foi a perda de fôlego do consumo observada no ano passado. "A importação ajudou o abastecimento interno, mas não foi um responsável isolado. Mas sem ela, possivelmente teríamos uma repetição do que aconteceu em fevereiro e março do ano passado, quando chegou a faltar etanol." Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, vai mais longe: em sua opinião, é a desaceleração demanda global o principal responsável pelo movimento de baixa do etanol no mercado interno. Com a crise externa, explica Silveira, as commodities não estão se valorizando, enquanto o real segue trajetória inversa. O preço médio do açúcar em dólares caiu 2,1% entre fevereiro e março, enquanto em reais, devido à apreciação cambial, esse recuo foi de 2,8%. Segundo Silveira, o preço caiu 10% desde dezembro. "O mercado de açúcar é maior do que o de etanol e influencia o pequeno", diz. Para este ano, ele projeta queda de 7% do preço da commodity no mercado internacional em relação a 2011, o que deve ajudar a controlar os preços do álcool hidratado.
Arícia Martins com colaboração de Fabiana Batista |
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